terça-feira, 14 de abril de 2009

EMPATIA

A empatia é, segundo Hoffman (1981), a resposta afetiva vicária a outras pessoas, ou seja, uma resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa, e não à própria situação.

O termo foi usado pela primeira vez no início do século XX, pelo filósofo alemão Theodor Lipps (1851-1914), "para indicar a relação entre o artista e o espectador que projeta a si mesmo na obra de arte."

Na psicologia e nas neurociências contemporâneas a empatia é uma "espécie de inteligência emocional" e pode ser dividida em dois tipos: a cognitiva - relacionada à capacidade de compreender a perspectiva psicológica das outras pessoas; e a afetiva - relacionada à habilidade de experimentar reações emocionais por meio da observação da experiência alheia.

Pesquisas indicam que a empatia tem uma resposta humana universal, comprovada fisiologicamente. Dessa forma a empatia pode ser tomada como causa do comportamento altruísta, uma vez que predispõe o indivíduo a tomar atitudes altruístas.[1]

Universalidade

Não foram encontrados estudos interculturais específicos para a empatia, mas há um vasto número de experiências que demonstram a ativação empática em diversos grupos etários, frente a pessoas que exibem sinais de aflição. Estudos feitos com crianças de 4 a 8 anos mostram experiência empática (através de relatos) frente a slides mostrando outras crianças em situações afetivas.

Bases fisiológicas da empatia

Mac Lean sugere que o sistema límbico, uma das partes mais antigas do nosso cérebro, e suas conexões com o córtex pré-frontal estariam envolvidas na empatia. Eles proporcionariam aos homens a capacidade de se colocar no lugar dos outros. Dessa forma, uma empatia primitiva estaria presente desde cedo na evolução humana, e com a aquisição de novas estruturas cerebrais e circuitos neurais adicionou-se a essa empatia uma forma de cognição, de tal forma que pôde ser experienciada em conjunto com uma consciência social mais desenvolvida.

Estudos de neuro-imagem sugerem que regiões associadas com emoções específicas podem ser ativadas pela visão da expressão facial da mesma emoção, fenômeno descrito como contágio emocional (Decety, 2003; Carr, 2003, Wicker et al, 2003 apud Singer et al, 2004). Em um estudo comparou-se a atividade cerebral na imitação de expressões faciais e na observação das mesmas em fotos, em outro se comparou respostas neurais eliciadas pela visão de faces com expressões de desgosto e prazer com respostas induzidas por odores prazerosos ou aversivos.

Essas experiências mostraram ativação em áreas relacionadas com a percepção e produção de expressões faciais de emoção (sistemas emocionais e faciais), assim como na aspiração de odores desagradáveis (ativação da insula).

Singer et al (2004), comprovaram que, de fato, a experiência empática tem bases neuronais, através de uso imagens da atividade cerebral,obtidas por ressonância magnética. As experiências nas quais voluntárias recebiam uma estimulação de dor na mão e da comparação desses resultados com aqueles obtidos nas mesmas voluntárias quando seus esposos recebiam o estímulo doloroso, no mesmo aposento.

Observou-se que as regiões cerebrais que sinalizam a sensação subjetiva de dor (a aflição dolorosa) – o córtex insular anterior e o córtex cingulado anterior, por exemplo – aumentavam sua atividade no cérebro das esposas como se o choque tivesse sido aplicado à mão delas mesmas. Já regiões como o córtex insular posterior, que sinaliza a dor física, ‘objetiva’, só eram acionadas quando elas realmente recebiam o estímulo de dor.

Conclui então que a atividade neural da estimulação empática não corresponde toda o sistema de dor, relaciona-se apenas com os componentes emocionais da ativação neural da dor, não se observando estimulação nos componentes sensoriais.

Precursores precoces de empatia

Choro reflexo do recém nascido

Estudos mostram o choro reflexo do recém-nascido como um precursor possivelmente inato de ativação empática. Esse choro reativo é evidenciado como resposta ao choro de um outro bebê, sendo descrito como um choro vigoroso, intenso, semelhante com o choro espontâneo, de maior intensidade do que o choro em resposta a outros estímulos sonoros de igual intensidade, do que a simulação computadorizada do choro de um bebê, do choro espontâneo de uma criança mais velha e até mesmo ao choro do próprio bebê, gravado (Sinner, 1971; Sagi & Hoffman, 1976; Martin & Clark, 1982 apud Thompson, 1987) Esse choro é a resposta empática predominante durante o primeiro ano de vida, sendo depois substituída por respostas empáticas mais maduras, como a tentativa de conforto à vítima.

Modos subseqüentes de ativação empática

Hoffman (1981), cita dois tipos de ativação empática que têm características de resposta comuns a toda espécie, sendo então possivelmente inatos.

O primeiro tipo é a imitação de outras pessoas pelos observadores, com movimentos posturais e de expressão facial que, quando produzidos, criam no indivíduo indicadores internos que contribuem para compreender e sentir a emoção em si próprio (Lipps, 1906 apud Hoffman, 1981).

O segundo modo empático é feito por indicadores de dor ou prazer do outro, que fazem associações com sensações já experienciadas pelo observador, resultando numa reação afetiva empática (Humphrey, 1922 apud Hoffman, 1981), que é involuntária e praticamente automática.

Dessa forma, Hoffman propõe que ajudar deve evocar uma resposta empática de aflição.

Comportamento de ajuda, dados de desenvolvimento e processos perceptuais

A resposta empática de aflição contribui para o comportamento de ajuda. Ela diminui de intensidade depois dessa ação ou continua ativada caso o comportamento de ajuda não tenha sido oferecido. A existência de empatia anterior ao comportamento de ajuda é evidenciada pelos experimentos de Geer e Jarmecky, em 1973. Foi observado que quanto maiores os sinais de dores de uma vítima, aumenta também o nível de ativação empática e a velocidade com que o observador presta ajuda.

Em seu trabalho, Gaertner e Dovidio (1977) fizeram estudantes universitários entrarem em contato com uma pessoa que arrumava cadeiras e, em determinado momento, esta pedia por ajuda. De maneira geral, quanto maior a resposta cardíaca dos sujeitos, mais rapidamente eles prestavam assistência à pessoa necessitada. Darley e Latané (1968) demonstraram que a aflição empática diminui depois de oferecida a ajuda com um experimento em que sujeitos se deparavam com uma pessoa que demonstrava estar tendo ataque epilético. Os indivíduos que não ajudavam a vítima do ataque continuavam a apresentar aflição, tremores e suores nas mãos, ao passo que os sujeitos respondiam ao pedido de ajuda apresentavam menos sinais de perturbação.

Considerando que a aflição empática é fisiologicamente ativada, pode-se inferir que crianças sejam estimuladas por ela, mesmo antes que desenvolvam habilidades cognitivas para ajudarem alguém em perigo da forma mais correta. Hoffman observou que crianças menores de 1 ano, que não têm consciência de individualidade, confundem a dor do outro com a sua própria, agindo como se ela mesma estivesse sentindo dor. Já as crianças entre 1 e 2 anos, que não têm noção de que as pessoas têm pensamentos e sentimentos, tentam ajudar fazendo algo que agradaria a elas mesmas – um exemplo é da criança que traz sua mãe para consolar um amigo que chora, mesmo estando a mãe do garoto angustiado tão disponível quanto a mãe do garoto que oferece ajuda.

Crianças de 3 e 4 anos manifestavam preocupação e apresentam comportamento de ajuda.

O ajustamento inclusivo pode ser um fator determinante do altruísmo. Na medida em que as sociedades tornaram-se complexas, o reconhecimento de parentesco e a avaliação custo/benefício anterior ao comportamento de ajuda ficaram dificultados. Para diferenciar parentes e não-parentes nesse novo ambiente, os indivíduos podem usar a similaridade entre si e os outros como um modo alternativo de ajustamento inclusivo. Feschbach e Roe fortalecem essa teoria com estudos que evidenciam que garotas de 6 e 7 anos mostram maior empatia ao assistirem a slides com outras meninas em situações que demonstram entre outras sensações, alegria e tristeza do que garotos assistindo a slides com outros garotos nas mesmas situações.

Klein aplicou um teste semelhante, mas separou as garotas negras e brancas. As meninas que participaram da experiência verbalizaram empaticamente com garotas de sua própria etnia.

Super-ativação empática

A super-ativação empática ocorre quando a ativação empática é tão intensa que o observador volta a atenção para si mesmo em vez de voltá-la para a vítima. Nesses casos, há pouca probabilidade de que ocorra uma ação altruísta. Isso pode ocorrer no caso de alguém que se propõe a ajudar uma vítima de um atropelamento e quando chega ao local do acidente sua aflição é tão intensa que este desmaia ou simplesmente sai do local, deixando de ajudar a vítima.

Contudo, considerando-se uma situação de ausência de esperança para a vítima, esse fenômeno pode ter sido um fator adaptativo, pois, assim, “preservando as suas próprias energias em vez de ajudar, quando a situação não oferece esperanças, o indivíduo continua disponível para ajudar outras pessoas, quando a ajuda pode ser mais efetiva” (Hoffman, M. L. - 1981).

Auto-recompensa

Quando a vítima exibe sinais de alívio ou alegria após ter sido ajudada, a pessoa que ajudou pode sentir alegria empática. Uma vez tendo experienciado alegria empática, a pessoa pode sentir-se motivada a ajudar novamente de modo a sentir a alegria empática outra vez. Essa auto-recompensa inerente na empatia não é um processo consciente e pode ter sido um fator adaptativo.

Ligações externas

www.empathy.se

Referências

Salvatore M. Aglioti, psicólogo, é professor da Universidade La Sapienza em Roma. Alessio Avenanti é pesquisador da Faculdade de Psicologia da Universidade de Bolonha - tradução de Doris Nátia Cavallari, para a Revista Mente e Cérebro, 179, Editora Duetto (dezembro/2007).